segunda-feira, 14 de julho de 2014

Aquilo Que Somos

E desde quando crer na descrença é crime? Não é o mundo que nos oprime, mas sim as verdades a quem nos submetemos. O autor poderia ser o garçom ou a menina que dorme debaixo da cama, também o menino que se transveste e o marido que admira a esposa, mas não a ama. Parece loucura. Só que não é. O que define o que realmente somos são nossas ações não oprimidas. Esclareço: Atire no liquidificador sonhos realizados, desejos nunca saciados e segredos que nunca poderiam ter sido revelados. Adicione o amor, lágrimas e uma pitadinha de medo, só para dar textura ao condimento. Agora unte a fôrma com aquilo que você acredite ser inatingível. Sim, aquele atrevimento na hora própria, aquela fantasia de vida, aquele outro caminho que você talvez tivesse escolhido para seguir. Coisas deixadas para trás. Coisas que só por atrevimento da vida foram postas de lado. Tais coisas que o universo arrancou de nossos caminhos só por maldade, pois essas tais trivialidades poderiam, sim, nos ter mudado completamente. Corpo e alma. Afinal, a matéria abriga o invisível e o invisível só existe por conta da matéria. Que ridícula é a crença do mundo. Não sabem, oh, tolos! , que até a fé é subjetiva? E nessa receita obscena a qual chamo de magia, tudo é mutação e intragável. Aquilo que somos é definido pelos passos que damos sem perceber que existiam incontáveis outros caminhos capazes de nos levar de encontro ao inevitável. Aquilo que somos pode ser definido como tudo ou como nada. Aquilo que deixei para trás, aquele que, em vida, jamais voltei a ver, aquela árvore derrubada, aquelas lágrimas que um dia escorreram de nossos olhos por impaciência... E nada pode ser mais justificável que o silêncio dos homens; aquelas, aquele, aquilo. Sim, sim. Mal posso compreender, mas aí está: Aquilo que fomos; Aquilo que seríamos; Aquilo que somos...  

(Henrique de Castro) 

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