E desde quando crer na descrença é crime? Não é o mundo que
nos oprime, mas sim as verdades a quem nos submetemos. O autor poderia ser o
garçom ou a menina que dorme debaixo da cama, também o menino que se transveste
e o marido que admira a esposa, mas não a ama. Parece loucura. Só que não é. O
que define o que realmente somos são nossas ações não oprimidas. Esclareço:
Atire no liquidificador sonhos realizados, desejos nunca saciados e segredos
que nunca poderiam ter sido revelados. Adicione o amor, lágrimas e uma
pitadinha de medo, só para dar textura ao condimento. Agora unte a fôrma com
aquilo que você acredite ser inatingível. Sim, aquele atrevimento na hora
própria, aquela fantasia de vida, aquele outro caminho que você talvez tivesse
escolhido para seguir. Coisas deixadas para trás. Coisas que só por atrevimento
da vida foram postas de lado. Tais coisas que o universo arrancou de nossos
caminhos só por maldade, pois essas tais trivialidades poderiam, sim, nos ter
mudado completamente. Corpo e alma. Afinal, a matéria abriga o invisível e o
invisível só existe por conta da matéria. Que ridícula é a crença do mundo. Não
sabem, oh, tolos! , que até a fé é subjetiva? E nessa receita obscena a qual
chamo de magia, tudo é mutação e intragável. Aquilo que somos é definido pelos
passos que damos sem perceber que existiam incontáveis outros caminhos capazes
de nos levar de encontro ao inevitável. Aquilo que somos pode ser definido como
tudo ou como nada. Aquilo que deixei para trás, aquele que, em vida, jamais
voltei a ver, aquela árvore derrubada, aquelas lágrimas que um dia escorreram
de nossos olhos por impaciência... E nada pode ser mais justificável que o silêncio
dos homens; aquelas, aquele, aquilo. Sim, sim. Mal posso compreender, mas aí
está: Aquilo que fomos; Aquilo que seríamos; Aquilo que somos...
(Henrique de Castro)
Nenhum comentário:
Postar um comentário