"Nick de Cartola - A Morte do Heroísmo"
Prólogo
Presos em seus desalinhos pessoais, os
anormais se reuniram durante a madrugada, ladeados por cadáveres. As demais
dezesseis crianças da segunda remessa de experimentos estavam mortas. Da
anterior, ninguém sobrou. Os pobres indigentes foram incinerados e suas cinzas
foram levadas por um furgão que chegou à espreita na madrugada; os corpos sobre
as camas de metal velhas jaziam inchados, perdendo sangue por fendas geradas
por explosões internas do organismo e já fedendo, mas os pobres sobreviventes
deveriam aguardar, em silêncio, até a chegada dos enfermeiros no raiar do dia.
A menina de
cabelos escuros e temperamento imprevisível foi a primeira a empurrar os
lençóis e tatear as camas em busca dos sobreviventes. Além dela, Nicholas,
Bolinha e Balinha sobreviveram. Ela nem conseguia classificar aquilo como
sorte, mas quem é que poderia saber? Obrigou-os a seguirem-na. Bolinha chorava
a todo instante e em determinado momento ela teve de socá-lo para que ele
saísse daquele clima de fracasso ao qual a pequena não se permitia fixar-se.
– Não seja lixo,
Bola! – Rosnou a menina.
O menino engoliu
o choro e o ar ficou mais leve.
Sentaram no
chão, no meio do breu. Não era possível enxergar sequer um palmo diante do
próprio nariz, mas o cantinho recluso para onde a menina sapeca os havia levado
fedia menos.
– Prontinho... –
Ela murmurou somente para poder ganhar tempo para juntar as palavras. Ela era
boa com ordens e ofensas, também violência, mas não nascera com o dom de
persuasão. – Vocês três sabem por que estamos aqui, não sabem?
Houve um momento
de silêncio. Eles não faziam ideia.
– Eu os reuni
por que temos que jurar em nome de todos os outros que morreram e por nós
também!
– Jurar? Jurar o
quê? – Nicholas questiona.
– Vingança, ora.
Temos que nos vingar. Eles não podiam ter feito isso conosco!
– Eles nos
matariam se... – Bolinha começa a falar, choramingando.
– Cale a boca, Bola,
ou eu te esfolo! – A menina sapeca ralha. – Acha justo o que nos fizeram?
Silêncio.
– Eu, Valéria,
juro que irei puni-los. Vingança, essa será a minha meta a partir de agora. E
não descansarei até que todos eles sejam eliminados. Um por um. Pagarão pelo
sofrimento que nos causaram. Nicholas?
Não se sabe
como, Nicholas percebera que ela abrira a mão no ar, fazendo o juramento. Ele
põe a mão sobre a dela, também aberta.
– E, mesmo
separados, me esforçarei a nos reunir e sempre lembrá-los deste nosso
compromisso. Também juro vingança eterna.
– Bola? – A
menina está cobrando.
Nicholas pega a
mão de bola e a põe sobre as demais.
– Eu também
juro. – Ele fala com a voz fraca. Além de prender o choro, está apavorado e
julga ridícula a reunião.
Mais um momento
de silêncio. As crianças olham para o lado e empalidecem. Era o momento de
Balinha falar, jurar a sua vingança e ostentar a sua fúria, porém o menino
havia se esquecido de que era humano. Perdia seu tempo coçando a orelha direita
com o pé, em movimentos ágeis e caninos. Fungando e babando, pouco se sentia
integrado ao pacto. Mas, por fim, decide fazer a sua jura.
Ele abre a boca
e late.
Autor: Henrique de Castro (eu)
Amigo, AMEI! Estou super curioso pra ler o seu livro. Parabéns!!!
ResponderExcluirEm breve!!!!!!
ResponderExcluirMeeeeu, um começo excelente. Instiga a gente a querer (precisar) saber o resto da história. Mto bom.
ResponderExcluirSimplesmente me apaixonei! Já estava completamente encantada pela história, depois desse trecho não tem como não ficar mega ansiosa para o lançamento do livro, que aposto que será grandioso!! Muito sucesso!
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